

Tal e qual a afeição desavisada,
por alguma via descurada,
desnorteada, entrou a desvairada.
Enamorada pelo sol, esplendor imenso,
ignorando meu olhar de agrado intenso,
buscou a fuga – sem mais demora,
para a liberdade a sorrir lá fora.
Chocou-se no cristal brilhante
e sem entender o que a impedia,
borboleteou aparvalhada
e, por fim, tão cansada,
sujeitou-se a inditosa sina.
Pobre lepidóptero ropalócero!
Pouco ou nada saber devia!
De um ovo, deixado na rama,
a lagarta, deselegante e sem fama,
em casulo se transforma...
Depois, da crisálida que se fende,
espreguiçando, enfrenta a vida:
É a mais nova borboleta viva!
Seu primeiro vôo, talvez fosse...
Talvez fosse sua prova prima...
Minha leitura abandonei...
Solícito, me aproximei...
Não era a Caligo Eurylochus;
tampouco a Ornithoptera Paradísea.
Com a Kallima Limborgi, em nada parecia.
Para que então falar da Chrysiridia Croesus,
ou da Delias Meeki, ou da Delias Eucharis,
da Cyrestis Thyodamas, da Milionia Zonea,
da Actias Selene, ou da Pholus Vitis,
para não citar a Attacus Edwardsi?
Todas lindas! Lindas! Lindas!
Porém... Não! Não! Não!
No meu quarto a prisioneira não hesita
e novamente se agita!
Do bater das asas – desesperança,
tênues partículas ao ar se lançam...
“É cegueira na certa”, há quem diga,
“se os olhos a poeira alcança”.
Olhei bem de perto, sem receio...
E o inseto nem belo, nem feio
no gesto cativou-me o afeto.
Então, filosofei
e na solidão desabafei:
Assim com o amor também sucede
desde quando ele nasce
até quando ele fenece!
Não te prendeu o nome;
não te prendeu a riqueza;
não te prendeu o status;
não te prendeu a beleza...
Bastou o cruzar do olhar
e no amor acreditar...
Mas...
E se por outra janela
o amor quer fugir?
Abre a vidraça,
deixe-o partir!
Fica-se cego com seus resíduos!
Isto é verdade, para que se iludir?!
O entorpecer da mente jamais consola!
Crucial tormento a alma esfola!
Rememorando vivências dessa escola,
a frígida lagrima enxuguei,
a vidraça escancarei,
e a borboleta
– pobrezinha –
desolado, libertei...

Nota: As espécies citadas foram (ipsis litteris) pesquisadas no Trópico –
Enciclopédia ilustrada em cores – Volume I – págs. 45 a 48 – Livraria Martins Editora S.A